"O canto, como parte necessária e integrante da liturgia (SC 112), pôr exigências de autenticidade, deve ser a expressão da fé da vida cristã de cada assembléia... O canto, portanto, não e algo secundário ou lateral, mas é uma das expressões mais profundas e autênticas da própria liturgia e possibilita ao mesmo tempo, uma participação pessoal e comunitária dos fiéis". (CNBB, Doc 7, Pastoral da Música Litúrgica no Brasil).
CRITÉRIOS PARA ESCOLHA DE CANTOS
1. Nossas referências, nossas fontes de inspiração...
O ser humano é constitutivamente um ser celebrante, e o ritmo da semana é um dado cultural de inúmeros povos. Todo domingo chega, assim, com sabor de novidade, com apelo ao reencontro da família, da comunidade, na fé, na alegria da esperança, desabrochando no louvor, num "cântico novo". Novo porque brota da vida que é sempre inédita e inspiradora... porque estamos sempre em processo de morte-ressurreição, em comunhão com Aquele, que, pelo seu Espírito faz novas todas as coisas, convertendo-nos cada semana.É importante selecionar bem os cantos para cada celebração. Cabe a cada comunidade escolher, entre as muitas sugestões, o que melhor lhe convém, levando em conta: a experiência concreta de vida, os acontecimentos marcantes de cada semana; os "sinais dos tempos", os apelos que brotam da realidade do povo deste lugar; o momento presente (no Brasil, no mundo); o jeito do povo daqui e de agora cantar sua vida e sua fé; o Mistério de Cristo, desdobrado nas passagens dos textos proclamados a cada semana, cada domingo, cada festa, e prolongado e identificado nas vivências todas da Igreja, seu Corpo...
2. Tempo Litúrgico - A Igreja celebra no TempoO Domingo, como um dia especial, Natal e Páscoa, como tempo de festa, são realidades na vida de todas as pessoas, sejam ou não membros da comunidade eclesial. Seguindo a sucessão de dias e noites e o movimento regular do sol, que põe ritmo evidente no nosso universo, o cristão se compraz em celebrar também ritmadamente o mistério de Cristo. O Senhor santificou todo o tempo e, por isso, todos os dias são santificados. Na vida concreta, porém, chamamos de "santos" certos dias e certos tempos em que abrimos mais espaço para celebrar o mistério de Cristo ou algum aspecto da salvação.
A Páscoa e as alegrias de celebrá-la são grandes demais para caberem nos limites de um Domingo. Desde cedo a Igreja passou a consagrar a isso o ano todo, dividindo-o em ciclos: um conjunto de domingos para celebrar o Salvador que se manifesta ao mundo; e outro grupo dedicado á Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, que nos envia o Espírito Santo. E entremeando estes dois ciclos, numa longa série de domingos, revive-se o que Jesus fez e disse como nosso Redentor.
3. A Assembléia
Antes de mais nada, em nossas celebrações, devemos levar em consideração as pessoas. A liturgia, afinal, é o lugar por excelência do encontro das pessoas humanas entre si, e das pessoas humanas com as Pessoas Divinas.
Quem são as pessoas que freqüentam nossas igrejas e participam de nossas celebrações?
• Crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos.
• Homens e mulheres, elas, quase sempre em número maior.
• Gente da capital ou do interior, do centro ou da periferia.
• Gente de classe média, gente abastecida, gente carente, classes altas e populares, erudita ou analfabeta.
• Povo, na sua maioria, pobre, sem terra, sem emprego, sem estudo, assalariados ou autônomos de baixo poder aquisitivo, que carrega sobre seu dorso a pesada cruz da opressão e sofre as conseqüências de algum tipo de exclusão. Gente para quem o Filho de Deus continua olhando com profunda compaixão, porque são como ovelhas sem pastor (Mt 6,34)
Levar em consideração a assembléia celebrante, com suas possibilidades, sua riqueza e seus limites, é a primeira preocupação de uma liturgia verdadeiramente pastoral. É o caminho mais seguro para se chegar a uma celebração cheia de vida, significativa e personalizada, sobretudo quando se trata de música e canto.A assembléia litúrgica não é apenas a soma dos indivíduos que a compõem. Ela é a Igreja inteira, manifestando-se naqueles que estão reunidos aqui e agora. Aí está o Cristo presente e agindo. Claro que se trata de pessoas, mas em comunhão, e não uma ao lado da outra. O que se quer é servir a essa comunhão entre as pessoas. E essa compreensão mística determina a prática do agente litúrgico-musical.
Não tem sentido, por exemplo, escolher os cantos de uma celebração em função de alguns que se apegam a um repertório tradicional, ou ainda de outros que cantam somente as músicas próprias de seu grupo ou movimento, nem de outros que querem cantar exclusivamente cantos ligados à realidade sócio-política, se isto vai provocar rejeição de parte da assembléia. Pois todos têm o direito de compreender e participar com gosto, sobretudo os mais desprovidos. É preciso que se pense em todos, e em cada um na comunhão com os demais.Nada mais sem graça e enfadonho do que uma celebração-robô, um “enlatado” litúrgico sem o rosto da comunidade que celebra, sem raiz nos acontecimentos que marcam a sua vida, sem atualidade, fora do tempo e do espaço. Ao pretender agradar a todos, termina sendo de ninguém. Pelo contrário, onde se tem experiência de uma celebração significativa e interessante há sempre por trás uma equipe de celebração capaz de encontrar, com a assembléia; por ela animada, o seu próprio estilo. Mas, para chegar a este ponto, não basta a personalidade de quem preside, a qualidade do coral, a competência dos instrumentistas, a riqueza de um repertório ou a escolha acertada dos cantos. É preciso que haja certa coerência entre as pessoas e as ações. É preciso profunda harmonia entre aquele que preside e as equipes de celebração e o povo.
4. Equilíbrio: Tradição e Novidade, Silêncio e Música Instrumental.Os cantos escolhidos devem ter o equilíbrio entre tradição e novidade, repetição e variedade, de modo que mantenha a assembléia, ao mesmo tempo, segura ao cantar os cantos da sua tradição e contente em poder renovar o seu repertório. Todo escriba versado nas coisas do Reino de Deus sabe tirar do seu tesouro coisas novas e velhas (Mt 13,52).
Oportunamente, como parte da celebração, deve-se observar o silêncio sagrado. A sua natureza depende do momento que ocorre em cada celebração. Assim, no ato penitencial e após o convite à oração, todos se recolhem. Após urna leitura ou homilia, meditam brevemente o que ouviram. Após a comunhão, louvam e rezam a Deus no íntimo do coração.A linguagem musical dos instrumentos tem seu lugar e importância na celebração da fé, não somente enquanto acompanha, sustenta e dá realce ao canto, que é a sua função principal, mas também por si mesma, ao proporcionar ricos momentos de prazerosa quietude e profunda interiorização ao longo das celebrações, proporcionando-lhes assim maior densidade espiritual. Os instrumentos musicais podem ser mais valorizados para executar um prelúdio, interlúdio ou posludio proporcionando clima para determinados momentos.
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